Parésia do III nervo craneano no Serviço de Urgência – a propósito de um caso clínico

Resumo

A parésia do III nervo craneano, apesar de pouco frequente, apresenta um extenso diagnóstico diferencial e pode estar associada a
patologia grave, nomeadamente aneurismas intracranianos, com
significativa taxa de morbilidade e mortalidade.
Os autores apresentam o caso clínico de uma mulher de
40 anos que recorre ao Serviço de Urgência por agravamento
progressivo de quadro de cefaleias, diplopia e ptose palpebral
direita com 2 semanas de evolução. Para além disso, a doente
referia, no último ano, alterações na coordenação de movimentos
voluntários e, cerca de 2 meses antes, episódio confusional agudo.
Como antecedentes pessoais, a destacar tabagismo, hábitos
alcoólicos ligeiros, insuficiência tricúspide ligeira e histerectomia
total por displasia do colo do útero. Havia história recente de otite
média aguda à direita, bem como abcesso dentário homolateral.
À observação, salientava-se ptose palpebral direita, anisocoria
discreta, diplopia binocular, reflexos fotomotores directo e consensual abolidos à direita, adiadococinésia e discreta dismetria na
prova dedo-nariz mais evidente à esquerda. Após efectuar TC-CE
que não revelou quaisquer alterações, a doente ficou internada
no Serviço de Medicina para esclarecimento do quadro clínico.
Ao 3º dia de internamento, por agravamento da intensidade da
cefaleia repetiu TC-CE com contraste endovenoso, a qual revelou
hemorragia subaracnoideia, observando-se por reformatação
tridimensional um aneurisma da artéria comunicante posterior direita.
Discute-se a abordagem diagnóstica efectuada neste caso em
particular, bem como a abordagem adequada, de acordo com a
literatura, perante uma situação de parésia do III nervo craneano.