Infecções e Antibioterapia num Serviço de Medicina

Autores

  • Nuno Marques Serviço de Medicina 1 do Hospital de Santa Maria, Lisboa
  • Francisco Araújo Serviço de Medicina 1 do Hospital de Santa Maria, Lisboa
  • José L. Ducla-Soares Chefe de Serviço de Medicina Interna; Professor da Faculdade de Medicina Serviço de Medicina 1 do Hospital de Santa Maria, Lisboa

Palavras-chave:

Infecções, Portugal, culturas, rentabilidade, isolamentos, antibioterapia, sensibilidade

Resumo

Introdução - A patologia infecciosa é uma das principais causas de internamento
nos Serviços de Medicina portugueses. Os dados existentes relativamente à
realidade portuguesa são escassos, de tal forma que necessitamos, por vezes,
de realizar extrapolações dos dados de outros países.
Objectivos - Com este estudo pretende-se determinar quais as características
da patologia infecciosa num Serviço de Medicina em Portugal.
Métodos - Foi realizado de forma prospectiva e sistematizada num Serviço
de Medicina de um Hospital Central Universitário, com a duração de 6 meses.
Foram incluídos neste estudo todos os doentes internados que apresentavam
diagnóstico infeccioso na admissão e/ou exames bacteriológicos ou serológicos requisitados.
Resultados - Satisfizeram os critérios 228 doentes, sendo 59% do sexo
feminino. A média de idades foi de 69,9. As infecções mais frequentes foram,
respectivamente: infecção respiratória (83) e infecção urinária (46). Os exames
culturais requisitados com maior frequência foram as hemoculturas para aeróbios
(194), urinoculturas (187) e hemoculturas para anaeróbios (55). A rentabilidade
dos exames culturais foi: hemoculturas para aeróbios 10,3%; urinoculturas
25,7%; hemoculturas para anaeróbios 0% e culturas da expectoração 7,5%.
Nos 83 doentes com o diagnóstico de infecção respiratória foram isolados nas
culturas requisitadas 4 agentes e obteve-se uma serologia positiva; a antibioterapia
mais utilizada como primeira linha foi a amoxicilina + ácido clavulânico. Nos 46
doentes com diagnóstico de infecção urinária foram isolados 51 agentes, 31
relativos a infecções adquiridas na comunidade e 20 a infecções nosocomiais,
predominando a Escherichia coli; a sensibilidade aos antibióticos dos agentes
mais frequentes foi determinada; as antibioterapias mais usadas como primeira
linha foram: cefradina (34,4%), amoxicilina + ácido clavulânico (31,2%) e ciprofloxacina (21,9%). Foi necessário modificar o esquema de antibioterapia utilizado como primeira linha em 27,2% dos casos, sendo a principal razão de mudança a fraca resposta clínica.
Discussão - A amostra deste estudo traduz a realidade de um Serviço de
Medicina em Portugal. Os exames culturais pedidos estão de acordo com os
diagnósticos infecciosos mais frequentes. A rentabilidade dos exames culturais
requisitados está de acordo com as séries internacionais, com excepção para a
baixa rentabilidade das culturas da expectoração e das hemoculturas para anaeróbios. Quanto aos agentes isolados nas infecções respiratórias não podemos tirar conclusões, devido ao baixo número de isolamentos. As percentagens relativas
dos agentes isolados nas infecções urinárias da comunidade e nas infecções
urinárias nosocomiais estão de acordo com os dados internacionais. Este estudo
aponta a nitrofurantoína e a cefradina como os antibióticos de primeira linha nas
infecções urinárias da comunidade. A antibioterapia prescrita empiricamente foi
suficiente na maioria dos casos, sendo apenas alterada em 27,2% deles. Este
estudo mostra um pouco da realidade portuguesa e carece de ser replicado,
num estudo de maior amplitude, de forma a permitir tirar conclusões e definir
orientações mais adequadas à nossa realidade.

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Referências

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Ficheiros Adicionais

Publicado

30-12-2005

Como Citar

1.
Marques N, Araújo F, Ducla-Soares JL. Infecções e Antibioterapia num Serviço de Medicina. RPMI [Internet]. 30 de Dezembro de 2005 [citado 29 de Março de 2024];12(4):203-8. Disponível em: https://revista.spmi.pt/index.php/rpmi/article/view/1705

Edição

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