Morrer num Serviço De Medicina Interna: As Últimas Horas de Vida
DOI:
https://doi.org/10.24950/rspmi/original/90/4/2018Palavras-chave:
Administração dos Cuidados ao Doente, Cuidados Paliativos, Cuidados Terminais, Hospitalização, Medicina Interna, Obstinação TerapêuticaResumo
Introdução: A longevidade crescente e o aumento das doenças crónicas justificam o número de doentes com necessidades paliativas nos serviços de Medicina Interna. O internista deve estar capacitado para assegurar cuidados de conforto no fim da vida dos doentes que assiste. O objectivo do estudo foi analisar a terapêutica realizada e os exames complementares de diagnóstico (ECD) solicitados nas 48 horas antes do óbito. Métodos: Estudo retrospectivo observacional, com análise de 100 óbitos consecutivos (de doentes com “indicação para não reanimar”) ocorridos no Serviço de Medicina Interna durante um ano. Resultados: A duração do internamento foi de 9,4 ± 7,9 dias, a idade de 86,5 ± 9,9 anos, sem diferenças de género. Verificou-se que 71,0% dos doentes tinha, pelo menos, um ECD pedido. Dos ECD constavam análises sanguíneas (54,0%), hemoculturas (17,0%), radiografias (19,0%), ecografias (8,0%) ou tomografia axial computorizada (2,0%). Foram prescritos: nebulizações (76,0%), antibioterapia (74,0%, sendo 44,6% de largo espectro), heparina de baixo peso molecular (71,0%), analgésicos não opióides (53,0%), entre outros. Em 28,0% dos casos não havia qualquer analgesia prescrita. A taxa de prescrição de opióides foi de 19,0%. Conclusão: É urgente a necessidade de mudança de paradigma na assistência de doentes vulneráveis. A medicina não deve ter sempre um fulgor curativo, porém deve permanentemente cuidar, respeitando os valores culturais, clínicos e éticos da relação médico-doente. O internista deve nos doentes em fim de vida melhorar o seu controlo sintomático e evitar o recurso a ECD inapropriados e sem qualquer benefício acrescido para a pessoa humana.
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