Leishmaniose visceral – a propósito de um caso clínico com hemorragias retinianas

Autores

  • Sónia Carvalho Serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro - Hospital de Vila Real.
  • Sandra Tavares Serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro - Hospital de Vila Real.
  • Manuel Cunha Serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro - Hospital de Vila Real.
  • J. Pereira Pinto Serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro - Hospital de Vila Real.
  • Fernando Guimarães Serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro - Hospital de Vila Real.

Palavras-chave:

Leishmaniose visceral, Kala-azar, dificuldades de diagnóstico, hemorragias retinianas

Resumo

A Leishmaniose visceral (LV) é uma infecção de distribuição
mundial englobando múltiplas síndromes clínicas, sendo cada
vez mais reconhecida como infecção oportunista, associada a
estados de imunossupressão, particularmente a infecção VIH.
As manifestações mais características são a febre, os sintomas
constitucionais, a esplenomegalia e a pancitopenia. O envolvimento ocular sob a forma de hemorragias retinianas é muito raro.
O diagnóstico pode ser difícil pois a identificação do parasita
nem sempre é possível, os testes serológicos têm sensibilidade
subóptima, e os testes de biologia molecular, como a Polymerase
Chain Reaction, nem sempre estão disponíveis na prática clínica.
Os derivados antimoniais são terapêutica de primeira linha
(excepto na Índia), ainda que se verifique tendência crescente a
preferir a Anfotericina nos doentes imunodeprimidos.
Apresentamos o caso de um doente de 35 anos, residente em
área endémica da doença, seronegativo para VIH, com um quadro
arrastado de sintomas constitucionais e febre, esplenomegalia
maciça e pancitopenia. A tentativa de isolamento do parasita foi
infrutífera, não havia evidência de outra doença, e o resultado de
testes serológicos para Leishmania foram positivos e fortemente
sugestivos de uma infecção em curso. Imediatamente antes do
início da terapêutica com antimonial, o doente começou com
queixas de visão turva e ao exame oftalmológico foram observadas hemorragias retinianas bilaterais. No decorrer do tratamento
ocorreu resolução das queixas oculares e clínico-laboratoriais.
Reportamos este caso pela invulgaridade das lesões oculares
associadas e pela sua complexidade diagnóstica. Pretendemos
ainda com este artigo relembrar que, apesar da relativa raridade
desta doença nos países desenvolvidos, o seu diagnóstico não
deve ser subestimado.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Murray HW. Kala-Azar - Progress against a neglected disease. N Engl J Med 2002; 347: 1793-1794.

Jeronimo S, Sousa A, Pearson R. Leishmania Species: Visceral (Kala-azar), Cutaneous and Mucocutaneous Leishmaniasis. In Mandell, Douglas and Bennett´s Principles of Infectious Diseases, 6th Ed. Philadelphia. Churchill Livingstone 2005; 119: 3145-3156.

Leder K, Weller P. Epidemiology and clinical manifestations of leishmaniasis; Diagnosis of leishmaniasis; Treatment and prevention of leishmaniasis. Uptodate 2008.

Choi CM, Lerner EA. Leishmaniasis as an Emerging Infection. JID Symposium Proceedings 2001; 6: 175-182.

Herwaldt L. Barbara; Leismaniasis; Fauci, Braunwald, Kasper, Hauser, Longo, Jameson, Loscalzo (Eds.); In Harrison`s Principles of Internal Medicine 17th edition, p1296-1300.

Desjeux P, Alvar J. Leishmania/HIV co-infections: epidemiology in Europe. Ann Trop Med Parasitol 2003; 97 (suppl 1): S3-S15.

Paredes R, Munoz J, Diaz I et al. Leishmaniasis in HIV infection. J Post-graduate Med 2003; 49: 39-49.

Guerin PJ, Olliaro P, Sundar S et al. Visceral leishmaniasis: current status of control, diagnosis, and treatment and a proposed research and development agenda. Lancet Infect Dis 2002; 2: 494-501.

Pintado V, Martín-Rabadán P, Rivera ML et al. Visceral leishmaniasis in human immunodeficiency virus (HIV)-infected patients. Medicine 2001; 80: 54-73.

Klotz SA, Penn CC, Negvesky GJ et al. Fungal and Parasitic Infections of the Eye. Clinical Microbiology Reviews 2000;13: 662–685.

De Cock KM, Rees PH, Klauss V et al. Retinal hemorrhages in Kala Azar. Am J Trop Med Hyg 1982; 31(5): 927-930.

Montero JA, Ruiz-Moreno JM, Sanchis E. Intraretinal hemorrhage associated with leishmaniasis. Ophthalmic Surg Lasers Imaging 2003; 34(3); 212-214.

Abboud IA, Ragab HAA, Hanna LS. Experimental ocular leishmaniasis. Brit J Ophthal 1970);54: 256-262.

Pal S, Aggarwal G, Haldar A et al. Diagnosis of symptomatic kala-azar by polymerase chain reaction using patient`s blood. Med Sci Monit 2004; 10(1): MIT 1-5.

Medrano FJ, Canavate C, Leal M et al. The role of serology in the diagnosis and prognosis of visceral leishmaniasis in patients coinfected with human immunodeficiency virus type-1. Am J Trop Med Hyg 1998; 59(1): 155-162.

Marques N, Cabral S, Sá R, et al. Leishmaniose visceral e infecção por vírus da imunodeficiência humana, na era da terapêutica anti-retrovírica de alta eficácia. Acta Med Port 2007; 20: 291-298

Piarroux R, Gambarelli F, Dumon H et al. Comparison of PCR with direct examination of bone marrow aspiration, myeloculture, and serology for diagnosis of visceral leishmaniasis. J Clin Microbiol 1994; 32(3): 746-749.

Braz RF, Nascimento et, Martins DR et al: The sensitivity and specificity of Leishmania chagasi recombinant K39 antigen in the diagnosis of American visceral leishmaniasis and in differentiating active from subclinical infection. Am J Trop Med Hyg 2002;67:344-348

Md Gulam Musawwir Khan, Mohammad Shafiul Alam, Milka P Podder, Makoto Itoh, Kazi M Jamil, Rashidul Haque and Yukiko Wagatsuma: Evaluation of rK-39 strip test using urine for diagnosis of visceral leishmaniasis in an endemic area in Bangladesh. Parasites & Vectors 2010, 3:114.

Murray HW, Berman J, Davies C et al. Advances in leishmaniasis. Lancet 2005; 366: 1561-1577.

Sundar S, More DK, Singh MK et al. Failure of pentavalent antimony in visceral leishmaniasis in India: report from the center of the Indian epidemic. Clin Infect Dis 2003; 31: 1104-1106.

Chappuis F, Sundar S, Hailu A et al. Visceral leishmaniasis: what are the needs for diagnosis, treatment and control? Nat Rev Microbiol 2007; 5(11): 873-882.

Sundar S, Jha TK, Thakur CP et al. Oral miltefosine for Indian visceral leishmaniasis. N Engl J Med 2002; 347: 1739-1746.

Bhattacharya SK, Sinha PK, Sundar S et al. Phase 4 trial of miltefosine for the treatment of visceral leishmaniasis. J Infect Dis 2007; 196: 591.

Sindermann H, Engel KR, Fisher C et al. Oral miltefosine for leishmaniasis in immunocompromised patients: compassionate use in 39 patients with HIV infection. Clin Infect Dis 2004; 39:1520-1523.

Herwaldt BL, Berman JD. Recommendations for Treating Leishmaniasis with Sodium Stibogluconate (Pentostam) and Review of Pertinent Clinical Studies. Am J Trop Med Hyg 1992; 46(3): 296-306

Ficheiros Adicionais

Publicado

29-06-2012

Como Citar

1.
Carvalho S, Tavares S, Cunha M, Pereira Pinto J, Guimarães F. Leishmaniose visceral – a propósito de um caso clínico com hemorragias retinianas. RPMI [Internet]. 29 de Junho de 2012 [citado 20 de Abril de 2024];19(2):79-86. Disponível em: https://revista.spmi.pt/index.php/rpmi/article/view/1144

Edição

Secção

Casos Clínicos

Artigos mais lidos do(s) mesmo(s) autor(es)

1 2 3 > >>