Leishmaniose visceral – a propósito de um caso clínico com hemorragias retinianas
Palavras-chave:
Leishmaniose visceral, Kala-azar, dificuldades de diagnóstico, hemorragias retinianasResumo
A Leishmaniose visceral (LV) é uma infecção de distribuição
mundial englobando múltiplas síndromes clínicas, sendo cada
vez mais reconhecida como infecção oportunista, associada a
estados de imunossupressão, particularmente a infecção VIH.
As manifestações mais características são a febre, os sintomas
constitucionais, a esplenomegalia e a pancitopenia. O envolvimento ocular sob a forma de hemorragias retinianas é muito raro.
O diagnóstico pode ser difícil pois a identificação do parasita
nem sempre é possível, os testes serológicos têm sensibilidade
subóptima, e os testes de biologia molecular, como a Polymerase
Chain Reaction, nem sempre estão disponíveis na prática clínica.
Os derivados antimoniais são terapêutica de primeira linha
(excepto na Índia), ainda que se verifique tendência crescente a
preferir a Anfotericina nos doentes imunodeprimidos.
Apresentamos o caso de um doente de 35 anos, residente em
área endémica da doença, seronegativo para VIH, com um quadro
arrastado de sintomas constitucionais e febre, esplenomegalia
maciça e pancitopenia. A tentativa de isolamento do parasita foi
infrutífera, não havia evidência de outra doença, e o resultado de
testes serológicos para Leishmania foram positivos e fortemente
sugestivos de uma infecção em curso. Imediatamente antes do
início da terapêutica com antimonial, o doente começou com
queixas de visão turva e ao exame oftalmológico foram observadas hemorragias retinianas bilaterais. No decorrer do tratamento
ocorreu resolução das queixas oculares e clínico-laboratoriais.
Reportamos este caso pela invulgaridade das lesões oculares
associadas e pela sua complexidade diagnóstica. Pretendemos
ainda com este artigo relembrar que, apesar da relativa raridade
desta doença nos países desenvolvidos, o seu diagnóstico não
deve ser subestimado.
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