Meningite asséptica recorrente associada a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana tipo 1: Caso clínico
Palavras-chave:
infecção VIH, meningite asséptica, carga víricaResumo
As meningites mononucleares são frequentes durante o curso da
infecção pelo vírus da imunodeficiência humana tipo 1 (VIH-1), sendo
os agentes oportunistas e a tuberculose as causas mais comuns.
A meningite asséptica está descrita na síndrome retrovírica aguda,
mas raramente na fase crónica da doença.
Apresentamos o caso de uma mulher de 44 anos, com diagnóstico
de infecção pelo VIH-1, em 1994, nível de linfócitos T CD4 inferior
a 200/µL e resposta imunológica ao tratamento anti-retrovírico.
Internamento em 2000, por meningite asséptica, com resolução espontânea. Em 2005 internada por quadro agudo de cefaleias e febre.
Apresentava líquor com 152 leucócitos/µL (97% mononucleares),
2,32g de proteínas/L e 0,39g de glicose/L. Os exames microbiológicos e serológicos foram negativos para Mycobacteriae, Herpesvirus, Enterovirus, Cryptococcus, Borrelia e Treponema palidum. Tinha 590
linfócitos T CD4/µL e carga vírica de 9764 cópias/mL no sangue e
9998 cópias/mL no líquor. Teve resolução sem qualquer tratamento.
A RMN cerebral mostrava múltiplos focos de hipersinal sub-cortical
temporais e frontais, presentes desde 2000, sem manifestações clínicas nem etiologia definida.
As manifestações neurológicas na fase aguda da doença
correlacionam-se com a carga vírica no líquor, mas esta relação é
desconhecida na fase crónica. A associação entre estes quadros e
uma carga vírica elevada no líquor poderá representar uma forma
de escape terapêutico de pior prognóstico neurológico. A infecção
directa pelo VIH-1 deve ser incluída no diagnóstico diferencial das
meningites mononucleares nestes doentes e, nesses casos, a estratégia terapêutica anti-retrovírica deve considerar os fármacos com melhor penetração no sistema nervoso central (SNC).
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Referências
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