Infecção aguda pelo VIH 1
Palavras-chave:
infecção aguda VIH, colite VIH, terapêuticaResumo
O diagnóstico da infecção aguda pelo VIH requer um elevado
índice de suspeição e exames laboratoriais específi cos. A seroconversão é frequentemente acompanhada de sintomas, mas a
sua inespecifi cidade e a inexistência de critérios universalmente
aceites para defi nir síndrome retroviral aguda, tornam este diagnóstico um importante desafio para os profissionais de saúde. Os
autores descrevem o caso de um homem de 32 anos, previamente
assintomático, admitido no nosso hospital por um quadro clínico
sugestivo de mononucleose infecciosa associado a diarreia,
anorexia, astenia e perda de peso. Da observação salientava-se a
presença de febre, amigdalofaringite exsudativa, linfoadenopatias
e hepatomegalia. Os exames laboratoriais demonstravam anemia,
linfocitose com linfócitos atípicos, elevação das transaminases
e da LDH. O doente negava factores de risco para a infecção
pelo VIH e possuía serologias virais (ELISA) negativas datadas
de 4 meses antes (era dador de sangue). Apesar do resultado
da serologia para o EBV ter sido positiva, prosseguiu-se o estudo
etiológico, incluindo o teste ELISA para o VIH, que confirmou a
seroconversão. A colonoscopia e as biopsias efectuadas ao nível
do cólon revelaram a presença de uma colite inflamatória de
características inespecíficas compatível com infecção pelo VIH. A
terapêutica anti-retroviral foi iniciada e, após 4 semanas de tratamento, o doente estava assintomático, constatando-se elevação
dos níveis de células CD4+ e diminuição da carga viral.
Este caso mostra que mesmo em doentes sem factores de
risco claros para a infecção pelo VIH, a síndrome retroviral aguda
deve ser considerada no diagnóstico diferencial de síndrome
mononucleósica. De igual forma a positividade da serologia para
o EBV não exclui a infecção pelo VIH e a suspeita deste diagnóstico deve implicar estudos virológicos. O reconhecimento da
infecção aguda pelo VIH permite, não só limitar a transmissão,
mas, provavelmente, melhorar também o prognóstico destes
doentes, oferecendo-lhes a possibilidade de iniciar terapêutica
anti-retroviral.
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