Do conceito ao diagnóstico de morte: controvérsias e dilemas éticos

Autores

  • Cristina Lima Assistente Hospitalar Graduada de Medicina Interna, Serviço de Medicina do Hospital de Curry Cabral, Lisboa

Palavras-chave:

ética, morte, morte cerebral, Neurologia

Resumo

Nos últimos cinquenta anos os avanços técnico – científicos na ficos na
área da medicina introduziram na prática clínica novos conceitos
de morte, cujo diagnóstico implica a execução de uma elaborada
lista de provas. A coexistência de vários critérios de morte tem
sido assunto controverso e sujeito a intenso debate.
Com uma discussão inquinada por um emaranhado de definições e conceitos pouco claros, foram ratificados os critérios
de morte cerebral em quase todos os países. Portugal adoptou
como critério a morte do tronco cerebral que vem sendo aplicada desde 1994.
Neste artigo, depois de perspectivar historicamente a questão,
é feita uma revisão das diferentes defi nições, critérios e testes de
morte, com referência aos argumentos mais importantes utilizados
pelas diferentes posições, valorizando o ponto de vista ético.
Conclui-se que a inexistência de um só conceito de morte
acompanhado pela variação dos critérios e dos testes utilizados
são a evidência da fragilidade das defi nições, fazendo supor que
as situações clínicas consideradas irreversíveis podem deixar
de sê-lo, dependendo da evolução do conhecimento científi co
sobre a fisiopatologia das doenças e dos recursos terapêuticos.
Relativamente aos testes utilizados no diagnóstico de morte,
conclui-se que a realização do teste da apneia viola as regras
mais elementares empregues no tratamento de doentes com
hipertensão intracraniana destinadas a evitar a lesão encefálica
irreversível, sendo mandatório que se faça um esforço sério de
investigação terapêutica das situações de coma e apneia, ao
mesmo tempo que deveriam ser revistos os testes a utilizar de
forma a excluir o teste da apneia.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Feldman F. On dying as a process. Philosophy and Phenomenological Research. 1989; 50(4):375-390.

Critérios de morte cerebral. Diário da República – I série - B, n.º 235 – 11-10-1994.

Beecher HK, Adams RD, Barger AC, Curran WJ, Denny-Brown D, Fans-worth DL, Folch-Pi J, Mendelshon El, Merrill JP, Murray J, Potter R, Schwab R, Sweet W. A defi nition of irreversiveble coma: Report of the Ad Hoc Committe of the Harvard Medical School to Examine the Defi nition of Brain Death.JAMA1968;205: 337-340.

Guidelines for the determination of brain death. Report of the medical consultants on the diagnosis of death to the president’s commission for the study of ethical problems in medicine and biomedical and behavioural research. JAMA 1981;246:2184-2186.

Bernat JL Culver CM, Gert B. A defense of the whole-brain concept of death.Ann Intern Med 1984;100(3):456.

Pallis, C. ABC of the brain stem death. The argument about the EEG. Brit Med J 1983; 286:284-287.

Truog RD. Is it time to abandon brain death? Hasting Center Report 1997; 27:29-33.

Howlett TA, Keogh AM, Perry L et al. Anterior and posterior pituitary funcion in brain-stem-death donors. A possible role for hormonal replacement therapy. Transplantation 1989;47:828-834.

Walker AE, Diamond El, Mosely JI (1975) The neuropathological findings in irreversible coma. J Neuropath Esp Neurol 34:295-323.

Pallis C. Brainstem death. In. Braakman R, ed. Handbook of Clinical Neurology: Head Injury. Amsterdam: Elsevier Science Publisher BV, 1990: 13(57):441-496.

Pallis, C. ABC of the brain stem death. The argument about the EEG. Brit Med J 1983; 286:284-287.

Deliyannakis E, Loannou F, Davaroukas A. Brain-stem death with persistence of bioelectric activity of the cerebral hemispheres. Clin Electroencephalograph 1975; 6:75-79.

Parisi JE, Kim RC, Collins GH, Hilfi nger M. Brain death with prolonged somatic survival. N England 1982;306:14-16.

D Alan Schewmon, HD. Chronic “brain death”. Meta analysis and conceptual consequences. Neurology1998;51:1538-1545.

Veatch RM. The defi nition of death: ethical, philosophical, and policy confusion. In Korein J, ed. Brain Death: Interrelated Medical and Social Issues. New York: Ann NY Acad Sci 1977; 315:307-317.

Pallis, C. ABC of the brain stem death. The argument about the EEG gument about the EEG. Brit Med J 1983; 286:284-287.

Deliyannakis E, Loannou F, Davaroukas A. Brain-stem death with persistence of bioelectric activity of the cerebral hemispheres. Clin Electroencephalograph 1975;6:75-79.

Giacomini M. A chage of heart and a change of mind? Technology and redefinition of death in 1968. Soc Sci Med 1997; 44:1465-1486.

Buchan A. Advances in cerebral ischemia: experimental approaches. Neurol Clin 1992;10:49-61.

Truog RD. Is it time to abandon brain death? Hastings Cent Rep 1997;27:29-37.

Bernat JL. How much the brain must dye in brain death? J Clin Ethics 1992;3:21-26.

Schroder R (1983). Later changes in brain death. Signs of partial recirculation. Acta Neuropathol 62:15-23.

Walker AE, Diamond El, Mosely JI (1975) The neuropathological fi ndings in irreversible coma. J Neuropatho Esp Neurol 34:295-323.

Roger P.Simon. Morte cerebral. In Cecil Textbook of Medicine (2000) Ed.Guanabara Koogan S.A;.446 - p.2262

Ebata T, Watanabe Y, Amaha K, Hosaka Y, Tagaki Y – Haemoyinamic changes during the apnea test for diagnosis of brain death. Can J Anaesth 1991;38: 436-440.

Jeret, J. S. & Benjamin, J.L. (1994) – Risk of hypotension during apnea testing. Arch Neurol 1994; 51 : 595-599.

Stuart J. Youngner, M.D. and Edward T. Bartlett, Ph.D. Cleveland, Ohio.Human Death and High Technology: The Failure of the Whole- Brain Formulations. Annals of Internal Medicine 1983;99:252-258.

Coimbra C, Drake M, Boris-Moller F, Wieloch T Long-lasting neuroprotective effect of postischemia and treatment with an anti-infl amatory/antipyretic drug: evidences for chronic encephalopathic processes following ischemia. Stroke 1996;27;1578-1585.

Metz, C et al – Moderate hypothermia in patients with severe head injury end extracrerbral effects. J Neurosurg 1996;85:533-541

Ficheiros Adicionais

Publicado

31-03-2005

Como Citar

1.
Lima C. Do conceito ao diagnóstico de morte: controvérsias e dilemas éticos. RPMI [Internet]. 31 de Março de 2005 [citado 18 de Dezembro de 2024];12(1):6-10. Disponível em: https://revista.spmi.pt/index.php/rpmi/article/view/1668

Edição

Secção

Artigos Originais