Prevalência e significado clí­nico da infecção pelo vírus da "hepatite" G em diversos gru­pos de doentes

Resumo

Introdução: A descoberta de outro vírus hepatotrópico (VHG/VGB-C) trouxe alguma esperança para o esclarecimento das hepatites não­ A-E, que dados mais recentes têm desvanecido. Nada se sabe quanto à importância da infecção pelo VHG em Portugal.

Objectivos: Estudo da prevalência e significado clínico da infecção pelo VHG em doentes portadores de outros vírus, ou hepatites e/ou pertencentes a grupos de risco para hepatites de transmissão parentérica.

Doentes e métodos: Estudaram-se 118 doentes (75H, 43M), pertencentes aos seguintes grupos: 18 com hepatite crónica C (I); 17 bebedores excessivos anti-VHC positivos (II); 36 hemodialisados (III), 16 deles com hepatite crónica C (IIIA) e 20 sem anti­ VHC nem AgHBs (IIIB); 17 transplantados renais com infecção pelo VHC (IV); 18 com hepatite crónica B (V); 10 com hepatite crónica criptogénica (VI); duas com hepatite auto-imune (VII). Onze doentes (7 do grupo I e 4 do II) eram toxicodependentes. Pesquisou-se o ARN-VHG, no soro, por RT-PCR, empregando primers das regiões 5'NC e NS5a, marcados com digoxigenina. Em 56 doentes com hepatite C e em todos os dos grupos V, VI e VII foi feito estudo histológico, cujo resultado se correlacionou com a infecção pelo VHG.

Resultados: Em 20 doentes havia ARN-VHG em circulação: 3/18 (16,7%) do grupo I; 2/17 (11,8%) do II; 5/36 (13,9%) do III, 2/16 (12,5%) do IIIA e 3/20 (15%) do IIIB; 6/17 (35,3%) do IV; 4/18 (22,2%)

do V. Nenhum doente com hepatite criptogénica ou auto-imune  apresentava  ARN-VHG. Dos  11 toxicodependentes, 4 (36,4%) apresentavam ARN­ VHG no soro. Em nove doentes com hepatite C e ARN-VHG biopsados, a actividade necro­ inflamatória era mínima em 4 e ligeira em 5, havendo fibrose portal em 6; dos quatro com hepatite B e ARN-VHG, um tinha actividade ligeira, sem fibrose e os outros 3 (com consumo alcoólico excessivo) actividade e fibrose graves. Nos três hemodialisados sem outros marcadores de hepatite e com ARN-VHG, as ALT, AST e GGT eram persistentemente normais. Conclusões: A prevalência da infecção pelo VHG foi semelhante (12,5 a 22%) nos diferentes grupos, com excepção dos toxicodependentes (36,4%), transplantados renais (35,3%) e hepatite criptogénica (0%). Os nossos dados sugerem baixa patogenicidade e pouca relevância clínica do VHG, que não vem resolver o problema do diagnóstico etiológico das hepatites criptogénicas. A inter-relação entre o VHG e os vírus das hepatites B e C merece ser melhor estudada.